sábado, 3 de novembro de 2012

A PRODUÇÃO AÇUCAREIRA E OUTRAS ATIVIDADES ECONÔMICAS


A economia açucareira
A escolha do açúcar como gerador de riqueza não ocorreu por acaso. O produto era muito apreciado e bastante conhecido no mercado internacional, no qual alcançava altos preços. Os portugueses produziam a cana-de-açúcar desde o século VIII, momento em que os mouros (povos do norte da África) dominaram a Península Ibérica.
Logo que os portugueses iniciaram as viagens oceânicas, no século XV, começaram a produzir açúcar nas ilhas do Atlântico, adquirindo bastante experiência no negócio. O alto preço do açúcar e a experiência na produção açucarei-ra foram decisivos para a implantação da agroindústria do açúcar na colônia americana.
Outro fator motivador para a atividade econômica açucareira foi a crise no comércio de Portugal com o Oriente. Os mercadores portugueses dominavam o comércio das especiarias para a Europa. No entanto, a partir da década de 1530, eles passaram a sofrer a concorrência de árabes, holandeses e espanhóis. O aumento do número dos envolvi-dos no comércio com o Oriente ocasionou a queda dos preços das mercadorias e dos lucros com essa atividade.
Açúcar: artigo de luxo
O açúcar não era utilizado apenas como adoçante. Servia de tempero, como medicamento, como conservante e ainda como adorno e enfeite da mesa de refeição. O açúcar foi durante muitos anos símbolo de prestígio e riqueza. Adoçar a bebida de um convidado, expor objetos de arte feitos de açúcar ou oferecer bolinhas de açúcar na sobre-mesa eram sinônimos de requinte.
A cana-de-açúcar chega ao Brasil
No Brasil, a cana-de-açúcar chegou trazida das ilhas de São Tomé e da Madeira por Martim Afonso de Sousa. Foi ele quem mandou construir o primeiro engenho de açúcar, na capitania de São Vicente, chamado de Engenho do Se-nhor Governador. Entretanto, a atividade açucareira conheceu seu maior desenvolvimento na Bahia e em Pernam-buco, regiões que apresentavam condições climáticas favoráveis para o plantio da cana: clima quente e úmido e o chamado solo massapê, escuro e fértil. O Nordeste foi a principal região produtora de açúcar da colônia.
A Coroa portuguesa não tinha a intenção de ocupar a colônia produzindo para a subsistência, mas de implantar um tipo de produção comercialmente muito rentável. Por isso, optou-se pela monocultura do açúcar. Além dos altos preços do produto, os portugueses puderam contar com financiamentos de banqueiros italianos e holandeses para instalar os primeiros engenhos. Outra vantagem para a produção do açúcar era a grande oferta de terras no Brasil.
A doação de terras para o plantio de cana foi estabelecida legalmente por Tomé de Sousa, o primeiro governador-geral da colônia. A grande extensão de terras doadas para o plantio permitia que se produzisse em larga escala para abastecer o mercado europeu. O latifúndio foi, dessa forma, o modelo de propriedade que se organizou na colônia. O cultivo de imensas propriedades garantia um volume alto de produção de cana sem que os senhores tivessem que investir em melhorias técnicas ou em fertilização.
A instalação dos engenhos de açúcar
A montagem de uma estrutura de produção de açúcar exigia altos investimentos. Os engenhos formavam um con-junto de construções normalmente interligadas: a casa-grande, a senzala, a capela, as plantações de cana, a lavoura de subsistência, a casa do engenho.
Na casa-grande moravam o proprietário do engenho (o senhor de engenho), sua mulher e seus filhos, além de ou-tros parentes e alguns escravos domésticos. Os escravos do engenho viviam na senzala. Na capela, o padre celebrava a missa e outras cerimônias religiosas, como o batismo. A produção do açúcar era feita na casa do engenho.
Geralmente, os engenhos eram movidos por tração animal, sendo também conhecidos como trapiches. Uma outra opção para o funcionamento das máquinas era a construção de uma roda d'água, o que exigia um grande investi-mento. Os engenhos movidos pela roda d'água eram chamados de reais.
Após o açúcar ser prensado nas moendas, para extrair a garapa, o produto era encaminhado para a casa das caldei-ras, onde era cozido em enormes tachos de cobre. Depois de pronto, o melaço era levado à casa de purgar para a retirada das impurezas, etapa essencial para garantir a qualidade da mercadoria. Por fim, o produto era encaixotado e transportado para os portos, de onde embarcava rumo à Europa.
As lavouras de subsistência
No engenho também havia pequenas faixas de terras destinadas a produzir mandioca, milho, feijão e outros alimen-tos para os moradores. A própria legislação determinava que os proprietários deveriam reservar tempo e terras para os escravos cultivarem mandioca, que era a base da sua alimentação. Em geral, os escravos, aos domingos, cuidavam desses cultivos.
Como os proprietários tendiam a ampliar as áreas de plantio de cana, o espaço para as lavouras de subsistência di-minuía. Isso explica a constante escassez de produtos e os altos preços dos alimentos na colônia. Diante disso, mui-tos pequenos lavradores passaram a produzir alimentos em suas roças, para consumo próprio e para comercializar os excedentes nas cidades.
O trabalho escravo
É fácil você perceber que a empresa açucareira colonial constituía uma atividade bastante sofisticada para a época. Na produção açucareira, devemos destacar o papel dos escravos, verdadeiros "pés e mãos dos senhores de enge-nho", conforme afirmou o padre André João Antonil (1649-1716).
A escravidão é uma instituição muito antiga. Desde tempos remotos, homens e mulheres endividados e prisioneiros de guerra eram obrigados a trabalhar em troca da própria vida. Na África e na América, a escravidão já existia muito antes da chegada dos europeus. Antes mesmo de o núcleo de São Vicente ser elevado à condição de vila, alguns portugueses que ali viviam já escravizavam indígenas. Com a instalação das capitanias hereditárias e o início da pro-dução do açúcar, a utilização do trabalho escravo teve um grande aumento.
A escravização dos africanos
Nas propriedades agroexportadoras do Nordeste, a escravidão indígena tendeu a ser gradualmente substituída pela dos africanos. Vários fatores explicam a opção pela escravização dos negros. Um deles foi a dificuldade de obter mão-de-obra indígena suficiente para produzir em grande escala, já que muitos nativos tinham sido mortos em guer-ras ou por doenças e outros tinham migrado para o interior da colônia.
A substituição do escravo indígena pelo africano deveu-se também ao tráfico negreiro. Altamente rentável, essa atividade tornou-se uma das principais fontes de acumulação de capitais para a metrópole (Portugal). Os escravos podiam ser adquiridos em troca de moedas ou produtos como rum, tabaco, açúcar, armas e ferramentas.
O uso intensivo da mão-de-obra escrava africana não significou, porém, que os índios deixaram de ser utilizados pelos colonizadores. O indígena, chamado de "negro da terra", continuou a ser amplamente escravizado até o século XVIII, especialmente nas lavouras paulistas e na economia extrativista no Norte do Brasil.
Da África à América
Os cativos eram transportados nos porões dos navios negreiros, também chamados de tumbeiros. Quando os barcos chegavam ao Brasil, as "peças" (forma como os comerciantes se referiam aos escravos) eram encaminhadas para os "depósitos" e preparadas para o comércio. Muitos indivíduos chegavam aqui em uma situação deplorável. Homens e mulheres apresentavam grandes feridas no corpo, piolhos e doenças de pele, entre outros males, além de estarem famintos e amedrontados. Muitos morriam durante a viagem. Entre os sobreviventes predominavam os homens jovens, seguidos por mulheres, crianças e velhos.
As primeiras levas de escravos africanos chegaram ao Brasil por volta de 1550. Até o final do século XVII, o tráfico negreiro cresceu bastante, tornando-se um negócio altamente lucrativo não só para os particulares que o realiza-vam, mas também para a Coroa, que arrecadava impostos dos traficantes.
Os Países Baixos no século XVII
Desde o início da colonização, o governo português transferiu para os colonos os gastos com a produção do açúcar. A Coroa cedia ao colono o direito de explorar o território, desde que ele investisse dinheiro próprio e pagasse impos-tos pelo uso da terra.
Sem ajuda da Coroa, os colonos tinham que arcar com os altos custos da montagem do engenho. Assim, os senhores de engenho tiveram de recorrer a empréstimos bancários. Os holandeses foram os que mais investiram na produção do açúcar no Brasil. No século XVII, o Banco de Amsterdã, o maior da Holanda, praticamente financiava a produção do açúcar brasileiro.
No início do século XVI a Holanda correspondia a uma das províncias do norte dos Países Baixos, então dominados pela Espanha. Na época, já existia na região uma poderosa burguesia comercial e financeira, composta principalmen-te de protestantes e judeus. Em 1581, as províncias do norte, lideradas pela Holanda, se libertaram do domínio es-panhol e formaram uma república, as Províncias Unidas. Nos anos seguintes os holandeses lançaram-se à corrida colonialista e conquistaram, na África e nas Índias, importantes entrepostos comerciais que pertenciam aos países ibéricos.
A expansão dos negócios das Províncias Unidas levou à fundação de duas poderosas companhias comerciais: a Com-panhia das Índias Orientais, em 1602, e a Companhia das Índias Ocidentais, em 1621. Muito antes de conquistar sua independência, a Holanda estava pronta para desafiar qualquer potência europeia.
A União Ibérica e seus efeitos
Em 1578, o rei de Portugal, D. Sebastião I, morreu lutando contra os mouros na Batalha de Alcácer Quibir, no Marro-cos (norte da África). A morte de D. Sebastião causou um grave problema para a Coroa portuguesa. O rei não tinha filhos, portanto, não deixou herdeiros: a dinastia portuguesa de Aviz chegava ao fim. O parente mais próximo do monarca era seu primo Filipe II, rei da Espanha. Os portugueses, e em especial os membros da nobreza, ficaram divi-didos: uma parte achava que a melhor solução era unir os dois reinos sob o rei da Espanha, enquanto outra repudia-va tal solução.
Os opositores à união de Portugal e Espanha conseguiram adiar a questão por dois anos, colocando no trono um tio-avô de D. Sebastião, o cardeal D. Henrique. Mas, com a morte do cardeal em 1580, o rei espanhol Filipe II tornou-se também Filipe I de Portugal. A união entre Portugal e Espanha durou de 1580 a 1640 e ficou conhecida como União Ibérica. A união das coroas ibéricas tornou sem efeito a linha divisória estabelecida pelo Tratado de Tordesilhas, o que estimulou a expansão territorial em direção ao interior da colônia. Por sua vez, ao unir-se à Espanha, Portugal "ganhou" os inimigos dos espanhóis, dentre eles a Holanda, que lutava por sua independência. Uma das primeiras medidas tomadas pelo novo soberano de Portugal foi proibir os holandeses de participar dos negócios do Brasil. O governo da Holanda, percebendo que estaria perdendo um grande negócio, decidiu invadir o Brasil. O objetivo não era dominar todo o território brasileiro, e sim as áreas produtoras de açúcar do litoral nordestino.
Os holandeses no Brasil
A primeira tentativa de conquista holandesa ocorreu em 1624, na Bahia. A ação foi organizada e financiada pela Companhia das Índias Ocidentais. Os holandeses chegaram à cidade de Salvador, capital da colônia, com 26 navios, centenas de canhões e mais de 3.000 homens. Os portugueses nada puderam fazer. No ano seguinte, porém, uma esquadra luso-espanhola bem armada, enviada pelo rei da Espanha, expulsou os holandeses da Bahia.
Em 1630, a Companhia das Índias Ocidentais financiou um segundo ataque. Dessa vez, o alvo escolhido foi Pernam-buco. No primeiro momento, a armada holandesa ocupou Olinda e Recife. A seguir, entre 1632 e 1635, com reforços vindos da Europa e com a ajuda de parte dos moradores da colônia, os holandeses consolidaram a ocupação de Per-nambuco.
O governo de Maurício de Nassau
Nos primeiros anos da ocupação holandesa, os proprietários de terras resistiram à invasão. Vencida a resistência, iniciou-se uma fase de acomodação, caracterizada pela convivência pacífica entre os invasores e os senhores de en-genho. A região ocupada passou a ser chamada de Nova Holanda, governada, a partir de 1637, pelo conde holandês João Maurício de Nassau-Siegen.
O início da administração de Nassau foi dedicado à reorganização da economia açucareira, nos moldes holandeses. Ele concedeu novos empréstimos para a compra dos engenhos abandonados e a reconstrução dos destruídos duran-te a resistência. Financiou a compra de escravos e incentivou os senhores de engenho a cultivar mais produtos agrí-colas de subsistência, entre eles a mandioca. Além disso, instituiu uma certa liberdade no comércio, permitindo que a atividade acontecesse fora da Nova Holanda. Os interesses políticos, econômicos e religiosos da população luso-brasileira foram respeitados.
Em termos culturais, Maurício de Nassau urbanizou um bairro do Recife, que denominou Cidade Maurícia. Além disso, incentivou a vinda de artistas e de estudiosos para o Nordeste. que produziram um conjunto de importantes obras sobre a região. Entre os pintores que faziam parte da comitiva de Maurício de Nassau estavam os paisagistas Albert Eckhout e Frans Post. Na esfera militar, o governador estendeu os domínios holandeses do litoral de Sergipe até o Rio Grande do Norte, além de parte da costa cearense.
A expulsão dos holandeses
Enquanto a presença holandesa se fortalecia no Nordeste, em Portugal e na Holanda ocorreram mudanças, que, mais uma vez, interferiram nos negócios do açúcar. Em 1640, Portugal se rebelou contra o domínio espanhol. Os holandeses aproveitaram as lutas entre Portugal e Espanha para consolidar seu controle sobre o processo produtivo do açúcar. Atendendo a uma sugestão de Maurício de Nassau, os holandeses ocuparam, em 1641, Luanda e outras regiões de Angola (na África) que forneciam escravos aos canaviais brasileiros. Além disso, a Companhia das Índias Ocidentais decidiu mudar o seu comportamento em relação aos senhores de engenho: passou a exigir o pagamento imediato dos empréstimos concedidos a eles, ameaçando se apoderar das propriedades dos que não pagassem as dívidas. Maurício de Nassau discordou da nova política e, em 1644, foi afastado do governo da Nova Holanda.
Os senhores de engenho, por sua vez, rebelaram-se contra os holandeses no movimento conhecido como Insurrei-ção Pernambucana, que levaria à rendição e à retirada dos invasores em 1654.
No entanto, a experiência adquirida no Nordeste brasileiro permitiu que os holandeses impulsionassem, nas Anti-lhas, a produção do açúcar. Nessas ilhas do Caribe, desde a década de 1630, ingleses, franceses e holandeses desen-
volviam a monocultura de cana-de-açúcar, empregando também o escravo africano. A forte concorrência da produ-ção antilhana fez o preço do açúcar cair no mercado europeu, enfraquecendo a produção açucareira da América portuguesa.
O Brasil não vivia só de açúcar
A empresa açucareira, embora predominante, não foi a única atividade econômica na América portuguesa. Outros artigos foram produzidos durante o período colonial, em menores quantidades, mas com vantagens econômicas para os colonos.
O tabaco e o algodão
O tabaco é uma planta nativa do continente americano. Além de ser produzido em latifúndios, era também cultivado em pequenas e médias propriedades, com o emprego da mão-de-obra familiar auxiliada por escravos. Tendo como centro produtor o Recôncavo Baiano, o tabaco era exportado para a Europa e trocado por escravos na África.
O algodão era um produto já conhecido pelos indígenas, que utilizavam seus fios para tecer redes. Cultivado nos atuais estados do Pará, Maranhão e Ceará, o algodão não tinha muita importância na economia brasileira do século XVII. Seu cultivo destinava-se ao consumo interno, principalmente para confeccionar tecidos para as vestimentas dos escravos.
A criação de gado
No início da colonização, o gado bovino era criado para uso nos engenhos de açúcar como força motriz nas moendas e no transporte de cargas e pessoas. Era o chamado gado de quintal. O aumento do número de animais gerou sérios problemas para os proprietários dos engenhos, pois o gado destruía os canaviais e ocupava um espaço que deveria ser aproveitado pela cana-de-açúcar.
No início do século XVIII, o governo português proibiu a criação de gado numa faixa de 80 quilômetros da costa para o interior. Essa medida contribuiu decisivamente para desbravar o "grande sertão", além do limite da linha de Tor-desilhas. Partindo do Rio São Francisco, os criadores penetraram no Piauí, Maranhão, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará.
Na atividade de criação de gado, em geral predominava o trabalho de negros libertos, de mestiços livres e de bran-cos pobres. Mas também se utilizavam trabalhadores escravos. O vaqueiro, porém, diferenciava-se dos demais tra-balhadores. Após quatro ou cinco anos de serviço, a cada quatro crias cabia-lhe uma. Essa forma de pagamento permitiu que o vaqueiro formasse seu próprio rebanho e adquirisse sua fazenda.
A expansão da pecuária para o Norte foi favorecida pela existência de terras salgadas no vale do Rio São Francisco, no Ceará e em Alagoas, já que o sal é um componente essencial na dieta do gado.
A pecuária também se desenvolveu no Sul da colônia, graças à paisagem natural da região, coxilhas recobertas por gramíneas.
No Sul, a criação de gado bovino, a partir do século XVIII, destinava-se à produção de charque, carne salgada, corta-da em porções e exposta ao sol, largamente consumida na região mineradora.
As drogas do sertão
A região amazônica, pelo Tratado de Tordesilhas, fazia parte dos domínios espanhóis. No entanto, desde o século XVII, a região foi conquistada e explorada pelos portugueses.
O que levou os portugueses para o interior da floresta foi a possibilidade de capturar indígenas para escravizar e a busca das especiarias, as chamadas drogas do sertão: anil, guaraná, salsaparrilha, corantes, pau-cravo, noz-do-pará, castanha-do-pará, gergelim, pequi, baunilha e cacau.
O interesse dos portugueses pelas drogas do sertão surgiu exatamente no momento em que o comércio do Oriente entrou em crise. Por isso, os lusitanos se apressaram em promover a ocupação e a exploração de uma região rica em "especiarias da floresta".

fonte: http://www.dialetico.com/textos_provas/producao_acucareira_atividades.pdf

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